terça-feira, 29 de janeiro de 2008

“Pátria, Empresa e Mercadoria” Carlos B Vainer – Resenha.


Entre os modelos de planejamento urbano que competem para assumir o trono deixado pelo projeto modernista está o chamado planejamento estratégico. Modelo este difundido no Brasil em ação combinada de agências como a Habitat e por consultores internacionais, catalães em sua maioria, possuindo como um dos expoentes máximos desse novo conceito de planejamento urbano a cidade de Barcelona.
Tal experiência tem origem nas técnicas de gestão empresarial, com a justificativa de que as cidades de um mundo globalizado passam pelos mesmos problemas e devem ser administradas com a mesma lógica de uma empresa. Ou seja as cidades devem tornar-se competitivas com o intuito de atrair investimentos e passar para trás suas concorrentes.
A cidade se vende no sentido em que busca se adequar as necessidades do capital especulativo, criando toda uma infra-estrutura para esses consumidores em potencial enquanto a grande massa de excluídos é tratada como problema paisagístico em seus postulados. Transforma-se em empresa quando se apropria de técnicas de marketing e business com o intuito de atrair mais investimentos e enxugar gastos em setores “improdutivos” como saúde e educação, atuando apenas a favor do capital e por fim apropria-se da imagem de pátria quando se apóia na figura de lideranças carismáticas, matando a cidadania quando a contestação e o posicionamento são banidos da esfera administrativa municipal.
Enquanto a visão moderna de planejamento urbano possuía como alicerce o taylorismo e sua lógica tecnicista, funcionalista e racional, os novos “gestores da cidade”, se apóiam em doutrinas como o toyotismo criando uma maior alienação em relação ao espaço, as relações sociais urbanas deixam de ter importância, a premissa é tornar a cidade rentável a qualquer custo, função esta delegadas aos citadinos.
Nessa nova concepção de cidade, a polis (lugar de confrontos de idéias, berço do cidadão, onde ocorre a real interação humana com o espaço) perde terreno para a city (sede de grandes investimentos, lar dos citadinos, dóceis autômatos que sob a liderança de figuras carismáticas exercem suas funções pelo bem da city). No entanto, algumas formas de resistência ainda sobrevivem, na medida em que os habitantes da cidade lutam pela cotidianização da política, gerando um processo de reconstrução e reapropriação dos espaços públicos, norteando assim uma nova alternativa, que apesar de ainda não estar organizada não deixa de ser uma saída.

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