segunda-feira, 20 de outubro de 2008






valeu galera, sem vcs isso não seria possível.


domingo, 19 de outubro de 2008

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Terror e Poesia








No decorrer dos ultimos anos, ocorreram diversos "acontecimentos globais", a morte da princesa Diana, a morte do piloto Ayrton Senna, as Olimpíadas, a Copa do Mundo, além da sempre presente violência. No entanto nenhum desses acontecimentos conseguiu atingir a dimensão simbólica dos atentados de 11/09/2001, em especial a queda das torres do World Trade Center.
Para Baudrillard, os atentados puseram fim a estagnação dos anos 90, que era definida pelo escritor argentino Macedônio Fernandes como a "greve dos acontecimentos", com um ato que na sua opinião superara todos os outros, o que o levou a mergulhar fundo no chamado "espírito do terrorismo".
Quanto mais forte é um sistema, maior é sua vontade de se autodestruir. A medida em que sua organização em rede se torna mais explêndida, mais vulnerável ela é em um único ponto, haja vista o temor que o vírus I Love You, criado por um franzino filipino, causou em todas as redes domésticas do mundo inteiro. É a própria crueldade dessa lógica mundializante que cria as condições ideais para essa réplica brutal. Sendo o terror uma imagem de nós mesmos refletida num espelho que temos recusa em encarar.
As Torres Gêmeas eram um símbolo da vitória do capitalismo financeiro, na medida em que puseram um fim a verticalidade competitiva que moldou o espaço urbano da cidade de Nova Iorque. Em 1973, data de sua inauguração, obelisco e a pirâmide, cederam espaço para uma arquitetura que refletia o grafismo estatístico do mundo financeiro, pelo fato de serem duas, o que acarreta o fim da referência original, essas lâminas cegas e de estética duvidosa, puseram um fim na concorrência pelos céus de Manhatan, marco de um sistema digital e contábil, símbolo das grandes redes e dos monopólios globais. Refletindo na sua arquitetura amplamente reproduzida no mundo todo, a violência e a ferocidade do mercado financeiro global.
Sua queda provocou no mundo inteiro um misto de fascínio e condenação moral, tal fascínio brota da alergia, felizmente universal, a qualquer ordem definitiva, e as duas torres, justamente em sua geminação, encarnavam essa ordem definitiva, dando aos terroristas a vantagem dessa cumplicidade que é moralmente inconfessável.
Foi o próprio sistema quem criou as condições para esta réplica brutal, o desafio imposto pelo excesso de poder exigiu como resposta um ato onde qualquer troca é impossível, forçando aquele monumento curvar-se diante de seu espelho e desaparecer no pó.
"O terrorismo é o ato que restitui uma singularidade irredutível a um sistema de trocas generalizado"(BAUDRILLARD). " Isto já se quer visa transformar o mundo, visa antes (como no tempo das heresias) radicalizá-lo pelo sacrifício, enquanto o sistema visa fazê-lo pela força.
Diferente do terrorismo praticado até então, que era essencialmente uma arma de pobres, onde o suicídio dos guerrilheiros em nada afetava o espírito do sistema, o ataque de 11/09 foi idealizado por experts, peritos em economia, investidores, aviadores, conhecedores do impacto que a imagem criada provocaria no mundo todo. Disfarçados, quase inofencivos, desviando a mira das maiores armas de seus inimigos. Trata-se de um agente viral, presente em todos os lados, diluídos, sombra refletida, um agente duplo inserido no coração da realidade que combate, uma fratura exposta do sistema dominante, "onda de choque de uma reversão silenciosa". 
O espírito do terrorismo consiste em: "Não atacar nunca o sistema em termos de relação de forças. Isto é o imaginário (revolucionário) imposto pelo próprio sistema, que não sobrevive senão por obrigar incessantemente aqueles que o atacam a baterem-se no terreno da realidade, que é pra sempre seu. Mas deslocar a luta para a esfera simbólica, onde a regra é a do desafio, da reversão, do sobrelanço. De tal modo que a morte não possa responder-se senão por uma morte igual ou superior. Desafiar o sistema com um dom ao qual ele não pode responder senão com a sua própria morte e o seu próprio desmoronamento." (Baudrillard - O Espírito do Terrorismo, Campo das Letras, 2002). "Acontecimento absoluto e sem apelo". Em seu Réquiem para as Torres Gêmeas diz:
"A utopia situacionista de uma equivalência da arte e da vida era substancialmente terrorista. Terrorista é o ponto extremo em que a radicalidade da perfomance artística, ou da idéia, entra na própria coisa, na escrita automática da realidade, numa projeção poética de situação. Mas se a arte pode sonhar em ser esse acontecimento material que absorve qualquer representação possível, está muito longe disso, e nada da ordem da imaginação ou da representação pode igualar ou comparar-se, hoje, com um acontecimento desses." Estes textos foram escritos ainda sob o efeito do baque daquele fatídico dia, a validade desse dito acontecimento absoluto, tem sido bastante contestada, devido aos furos nos laudos, e diversas outras informações contraditórias. Mas Baudrillard se esquecera de sete de agosto de 1974, o crime do século, o mesmo alvo, ao invés de uma implosão, poesia.
Ao atravessar numa corda bamba, o vão entre as recém-inauguradas Torres Gêmeas, Philippe Petit,cometeu o crime artístico do século. Foram tres anos de planejamento, incluindo fotos tiradas de um helicóptero alugado, a conquista da amizade de um executivo que trabalhava no prédio, fingir ser um correspondente de uma emissora francesa, para ir até o topo com o sindico do conjunto e batalhar o seu sustento como malabarista nos cruzamentos da Big Apple. Petit desafiou todos os seus limites, não só ao andar numa corda bamba a 417 metros de altura, mas também ao driblar a segurança de um dos prédios mais vigiados do mundo, impulsionado pelo desejo de tocar os céus. Naquela manhã ensolarada de agosto, curtiu o momento por 45 minutos, sua namorada diria que aquilo era a coisa mais linda que havia visto na vida, as autoridades, atonitas, apenas o observaram deitar na corda, desafiar a gravidade, curtir um momento único, simbolo máximo da opressão se dobrou diante da poesia daquela manhã. Este sim, um acontecimento absoluto e sem apelo. 
Terrorismo poético pode ser entendido como um conjunto de ações não-violentas em larga escala que podem ter um impacto psicológico comparável ao poder de um ataque terrorista, configurando-se num ato de mudança de consciência. Onde o "choque estético tem de ser uma emoção tão forte quanto o terror - profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadáista - (...)se não mudar a vida de alguém (além do próprio artista) ele falhou." 
"Uma primorosa sedução praticada não em busca apenas da satisfação mútua, mas também como um ato consciente de uma vida deliberadamente bela - talvez isso seja o TP em seu mais elevado grau." (Hakim Bey)
Os terrosristas-poetas comportam-se como trapaceiros, confiantes, cujos objetivos não se resumem em dinheiro, seu objetivo é a TRANSFORMAÇÃO.
Suba na corda bamba, invente um nome falso, seja uma lenda, o melhor TP é contra a lei, não vacile, não seja pego. "Arte como crime, o crime como arte."