terça-feira, 19 de agosto de 2008

Apresentação ou Sympathy for the Evil

" Eu vos digo: é preciso ter ainda caos
dentro de si, para poder dar luz a uma
estrela dançarina. Eu vos digo: ainda
há caos dentro de vós..."
- Zaratustra

Por favor, permitam que me apresente, ao contrário do diabo apresentado a nós por Keith Richards e Mick Jagger, não sou um homem rico, alguns podem dizer que meu bom gosto é de fato bastante questionável. Sou inquieto por natureza, e essa conversa que teremos nestas linhas é resultado da jornada de uma pessoa. E por esse envolvimento que é pessoal, já que estou falando de mim, o trabalho ou o blog diante de você não seguirá a linguagem, nem as convenções esperadas de um texto científico, a justificativa é dada pelo fato de que não existe nada mais acético e cinza do que uma explicação científica. Prefiro uma mesa de bar, um bate papo na pracinha das salas 50s da FAAC, melhor ainda a sala de alguma república estudantil, que foram os locais onde tive o primeiro encontro com as informações que pretendo trocar. Aliás, boa parte dessas idéias nascem do princípio da desobediência, sendo assim, não espere uma monografia formal, e nem venha em busca de verdades absolutas, pegue uma taça de vinho, acenda uma vela, e embarque nessa viagem.

Meu amigo leitor pode não concordar com o que irei falar. O que pode enriquecer em muito o processo que iniciamos agora. “Vamos por partes.” Como diria Jack (o estripador), e comecemos com um esclarecimento, este trabalho é uma tentativa de aplicação de um ideário que venho estudando desde o meu primeiro ano de faculdade, resultado de seis anos de discussões com os amigos, navegadas na internet, participações em sites de relacionamento, etc. Uma realização coletiva que só se tornou possível graças as contribuições dos meus amigos. Composto por esse corpo textual e por diversas intervenções urbanas, que só se realizaram e ainda se realizarão graças a um esforço que é coletivo.

Mas chega de justificativas e voltas, sou prolixo e tenho déficit de atenção, meu raciocínio é pouco linear, mas prometo me esforçar pra tentar ser claro. Sem mais delongas, comecemos!

A condição social contemporânea pode ser definida como liquefação. Com a crise das representações e a morte dos ídolos, Deus e o Espaço caíram no buraco negro do ceticismo, pondo um fim as identificações de sujeito e objeto. Nesse caldo, chamado capitalismo tardio, o abismo das desigualdades sociais vem sofrendo um crescimento vertiginoso, e a cultura exerce com eficiência impressionante, seu papel de a mais perfeita das mercadorias, aquela que ao ser consumida, nos leva a consumir todas as outras.

Nesse contexto, movimentar-se no tanque de poder líquido não precisa ser necessariamente um ato de cumplicidade, o ser anacronicamente conhecido como artista ainda pode provocar distúrbios, mesmo que esse movimento assemelhe-se aos gestos desesperados de quem se afoga.


A função primária do projeto de “abolição da arte” é destruir todas as mitologias culturais em que os poderes estabelecidos cristalizam a imagem de sua superioridade, de sua própria inteligência, a arte é a poltrona confortável onde o Estado das Coisas senta-se a procura de prazer.

Diversos grupos – passados presentes e futuros - (falaremos sobre alguns deles mais adiante), compartilham da noção de que ser um artista em uma sociedade na qual a cultura – em todas as suas esferas – é o agente primário da dominação política e o bem de consumo ideal, é um ato inerentemente contraditório, já que arte privilegia valores como a individualidade e a criatividade que são constantemente negados pela realidade econômica do capitalismo.

Nessa crítica, investigaremos - num primeiro momento - brevemente o rumo da estética, paralela ao estudo da moral, pela corrente da filosofia ocidental, e suas relações de justificativa do ideal, inicialmente aristocrático e depois burguês, da arte definida como cultura superior da classe dominante. Nesse momento nos concentraremos na Estética Aristotélica (ideal aristocrático) e Kantiana (ideal burguês).

Nos posts ou nos capítulos seguintes abordaremos o nascimento da contra-cultura, e traçaremos um perfil histórico de dois grupos que na minha opinião transformaram o pensamento marginal na década de 60, a internacional situacionista e suas experimentações urbanas niilistas e iconoclastas, e o movimento provos, que ao contrário de boa parte da juventude de sua época ao invés de cair fora da sociedade, caíram dentro e Amsterdã nunca mais foi a mesma.

Abordaremos também a contra-cultura hoje e suas interfaces com o progresso técnico no meio informacional, tomando como base o terrorismo poético(Hakim Bey). Além do relato das intervenções executadas pelo Coletivo Costeleta e por outros grupos e indivíduos na cidade de Bauru.